quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Quando começou

A história do bairro da Liberdade se confunde com a própria formação da cidade. Nome cheio de significado para um lugar que, embora poucos saibam, teve um papel marcante na história da Bahia e do Brasil.
Antiga Estrada das Boiadas- nome de origem do bairro, era por onde passava o gado das fazendas que vinham de Feira de Santana por Pirajá para o abatedouro do Retiro.
Foi pela mesma Estrada que o exército nacional entrou na cidade de Salvador no dia 2 de julho de 1823, para combater as tropas do general Madeira de Melo, lutando e proclamando a Independência da Bahia, que consolidou o fim do Domínio português no Brasil. Avançaram até alcançarem o Terreiro de Jesus, colocando-se diante do templo que hoje é a Catedral Brasílica, antes de irem se aquartelar em diversas pontes da cidade, alguns contingentes ocupando conventos e seminários, por falta de instalações militares suficientes.
Com isso o bairro da Liberdade passou a ser chamado de bairro da Liberdade.
De um lado, estava o desejo de Portugal em preservar parte do Brasil como colônia e, do outro, todos aqueles que, enfrentaram o desafio de uma luta de improviso, de sítio, de determinação em não consentir uma pátria dividida.
Na primeira fase, até o conhecimento, na Bahia, da proclamação da Independência, aclamação de D. Pedro como imperador e sua coroação, todos os documentos revelam claramente uma política de pacificar. As divergências são entre pai, rei e filho, príncipe. Nos dois lados há portugueses. Uns a defender a recolonização, outros a independência. A comunicação entre os centros de decisões era demorada e difícil. Ante os ideais, sobrepõem-se os interesses. Na cidade, os comerciantes garantiam uma atividade que, a partir de 1808, se mostrava promissora num mundo novo, industrial. Do outro lado, no Recôncavo, a lavoura, os bens asseguravam a posse de terras, reforçando a decisão de permanecer na sua propriedade. Preservar era lei. E entre as disputas, ficou a classe trabalhadora, o povo, os escravos a serem arregimentados, ora pelos comerciantes, ora pelos senhores proprietários, a cogitar que podia ser exercida a Revolução dos Alfaiates de 1798.
Receios, medos sofre o imperador e, a 7 de abril de 1831, abdica D. Pedro, criando nova situação, novos problemas. Neste período há outras revoltas. A de Guanaes Mineiro, que chega a estabelecer governo em Cachoeira, a Revolta dos Malês, de escravos e libertos, na Bahia, no ano de 1835, e a Sabinada,
Ainda no contexto histórico, a Liberdade sediou alguns quilombos nos tempos que precederam a Abolição da Escravatura. Com a Lei Áurea, esses núcleos de resistência acabaram dando origem à população negra de hoje, superior a 300 mil habitantes, sendo um dos bairros mais populosos de Salvador. Nele, encontramos uma vida, comercial e financeira independente, com uma rede de bancos e uma infinidade de lojas na principal via do bairro, a Avenida Lima e Silva nome do comandante substituto de Labatut, chefe do Exército Pacificador, - à frente das tropas brasileiras-.

Próximos dali também estão o Plano Inclinado, que liga a Cidade Alta com a Baixa, o antigo Cine Brasil, que dará espaço a um centro cultural, o Colégio Duque de Caxias marco do ensino médio na Liberdade, a Feira do Japão que parte do comércio que atende bairros vizinhos, que é sem dúvida a atividade mais importante da região que abastece de verduras, frutas, hortaliças e de outros produtos alimentícios além de flores, plantas, chás, panelas, roupas e animais vivos ou abatidos a população da Liberdade.
A Liberdade é cercada por outros bairros igualmente populosos, como Pero Vaz; antigo Corta-Braço, onde surgiu no ano de 1946, a primeira invasão de Salvador provocada por sem-tetos, Cidade Nova, Pau Miúdo e Caixa D’ Água e o bairro Guarani; antiga fazenda Conceição. A maioria da população é carente, com renda per capita média de 2,5 salários mínimos.
A história da primeira invasão vem de longe. Até 1802, a Liberdade era zona rural. O fim da cidade era na Soledade. A Lapinha estava fora do perímetro urbano. A zona rural era ladeada por propriedades de religiosos, sítios, chácaras, etc. Com o advento do progresso, os pardieiros, situados na Sé, Garcia, Passos, nos quais se alojava a população não branca, de baixo poder aquisitivo, começaram a ser demolidos, então o pessoal de poucos recursos migrou para o norte, como a Liberdade. Por outro lado, as classes dominantes que residiam em freguesias como a de Santo Antônio, por exemplo, sentiam-se inferiorizadas pelo convívio com famílias de condição social mais baixa, e aos poucos, foram-se transferindo para lugares mais nobres, ao sul da cidade, como a Barra e Vitória. Por esse período, também estava acontecendo o fluxo migratório das populações interioranas, que se dirigiam a Salvador, como opção de melhoria de trabalho, etc. Sem condição para receber tanta gente, a cidade cresceu para a zona tida como rural, acontecendo o surgimento de novos bairros.
Como o antigo Corta-Braço hoje Pero Vaz, que teve inicio com aquelas invasões, até a rua de Porto Alegre, que dá acesso ao bairro do IAPI.
Para o responsável pela Administração Regional da Liberdade, Wellington Sacramento, o maior problema do bairro é a falta de infra-estrutura, incluindo saneamento básico.

No bairro existe um conjunto de ruas cujos nomes estão ligados à atividade do comércio e do gado, entre essas uma das mais famosas e a rua do Curuzu. Rua considerada “bairro” por sua população e importância, situada entre a Liberdade e a Avenida General San Martin, surgiu da necessidade de moradia. No Curuzu não havia casas. As pessoas começaram a arrendar. Os donos do lugar eram os Martins Catharino.  

O Curuzu nome que vem de um forte que foi tomado depois de muita resistência e heroísmo dos paraguaios contra as tropas do Brasil, Argentina e Uruguai que na época serviam como marionetes do poder imperial da Inglaterra. O Forte do Curuzu foi tomado na Guerra do Paraguai no dia 2 de setembro de 1866.

A resistência paraguaia é a mesma na Ladeira do Curuzu levada a cabo pela população local, em sua maioria afrodescendente. Lá estão os verdadeiros lutadores pela igualdade racial e igualdade de oportunidades, tem uma população de 23.108 habitantes, concentrada em ruelas e baixadas adjacentes. Há uma identidade própria, marcada principalmente pela história e cultura e presença do Ilê Aiyê, o primeiro bloco afro do Brasil.
O Curuzu tem um comércio “de vizinhança” bastante ativo, embora pouco diversificado, e com alto índice de informalidade ( de acordo com o senso apresentado pelo Sebrae em 2005, de 378 negócios ativos identificados no bairro, 226 são informais e 152 formais. São 299 empreendimentos empresarias e outros 79 de cunho cultural e social). No Curuzu, com em toda a Liberdade, os moradores ainda se encontram litígio judicial pela posse do terreno ocupado há mais de 50 anos. Por falta de espaços, as casas são construídas em cima de lajes, característica encontrada na maioria dos bairros populosos de ocupação irregular em Salvador. É o que os estudiosos chamam de verticalidade nas construções, que também acontece em função de questões culturais e financeiras.






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